Já não é
suficientemente pleno viver? É preciso ser feliz também...
Algumas pessoas
entenderão o porquê deste devaneio de hoje. Confesso que sou de uma geração que
diariamente pelas manhãs ouvia a seguinte música: Todo mundo tá feliz – Tá feliz;
Todo mundo quer dançar- quer dançar; Todo mundo pede bis... E assim aconteciam
as minhas manhãs também. Durante anos por sinal.
Porém hoje acordei meio
cansada, sei lá talvez mais preguiçosa que o normal. Como sempre desejei bom
dia às pessoas que estão aqui em casa. Faltou apenas uma, mas pra essa já
desejei logo uma boa semana, com todos os sete bons dias necessários.
Então eis que surgi na
minha mente à pergunta: Por que é que eu preciso ser feliz todos os dias?
Pronto... Foi o
precisava pra loucura começar.Instantaneamente já
coloquei a culpa na quantidade de álcool que eu ingeri desde que o Ano Novo
começou. Só pode ser isso, tenho bebido demais, passeado demais, dormido
demais, descansado demais, enfim tenho vivido intensamente meu período de férias,
sem fazer questão nenhuma de manter um equilíbrio.Procurando um jeito para evitar o mal estar , preferi resolver tudo com a
promessa de que beberei menos da próxima vez.
Iludida pela promessa,
porém bem consciente da necessidade, achando que ia passar, sou literalmente
arrebatada pelo próprio Armagedom pessoal.
Porque é que eu não
aprendo a ficar calada?
Eis que então surge na minha frente
nada mais, nada menos que ela: A Divina Felicidade!
Agora fudeu de vez... pensei , tô precisando mesmo é ser internada.
Mantive a calma, fiz a boa e velha cara de paisagem, como se fosse à coisa mais normal do mundo um
devaneio desses. Criei coragem e resolvi enfrentá-la... a tal da Felicidade.
Após alguns momentos de
silêncio e contemplação, resolvi que deveria analisá-la fisicamente.
Confesso mais uma vez
que me surpreendi. A meu ver, tava mais parecida com uma Barbie,
mas não a Barbie comum, era uma coisa assim meio Barbie Travesti , sabe? Não
era aquela Barbie perfeita. Mas resolvi ficar tranquila, e não questionar o porquê
de uma aparição desta forma.
Era toda trabalhada no
patrocínio, uma ostentação de etiquetas. Tinha de tudo. Esfreguei os olhos pra
tentar enxergar algumas, muita informação, sabe como é? Preferi manter um foco,
e continuar minha analise. Vi Prada, Louis Vuittons, Colcci, Tng, Dona
Florinda, tinha aquela também do jacarezinho, bota da Zeferino, bolsa da
Cavage, uma loucura..., maquiagem da Channel... puta que pariu que felicidade
mais metida essa !
De repente sinto um olhar,
tipo daquele que soltam chamas, entro em pânico, recorro rapidamente ao meu pensamento,
raciocínio, sei lá, uma maneira de acabar com esse devaneio de vez. Solução:
Prometer que nunca mais beberia, fiquei repetindo mentalmente isso, inúmeras
vezes, de olhos fechados, fixa nas palavras do manual do pensamento positivo
que andei lendo em algum momento da minha vida... Um repentino alivio toma
conta da minha alma resolvo abrir os olhos, e satisfatoriamente ela não está
mais lá. Faço mais uma promessa: Nunca mais verbalizo nada que tenha haver com
a ditadura da Felicidade.
Puta que pariu de novo, foi só
pensar novamente na palavra que me surge à maldita, ali impávida, na minha
frente.
Dessa vez,
estrategicamente resolvi em questões de segundo enfrentá-la, sem teme-la, me
sentindo inclusive bem à vontade pra ter uma conversa bem civilizada – Para tudo, que agora eu enlouqueci de vez...
Criei forças, comecei a lembrar de todas as citações que vi estampadas no Face de amigos e amigas, a
respeito da digníssima. Então, sentindo-me mais embasada resolvi fita-la nos
olhos, quero enxergar sua própria alma. Com as mãos suadas de tanto desespero,
fixo-me em seu olhar e calmamente pergunto:
- Ei... Você é feliz?
Minha nossa... Como
assim, depois de tanto embasamento, eu com a oportunidade de me deparar frente
a frente com a Felicidade, faço essa pergunta... Não, não, não... Isso é inadmissível,
é o verdadeiro cumulo do absurdo. Porque não perguntei sobre moda, viagens,
carros, restaurantes, cassinos, tecnologia de ponta... Sei lá, casa, jardim,
decoração, um fast food do momento talvez? Mas não, a idiota aqui resolve
perguntar pra própria felicidade se ela é feliz... (pelo amor de Deus).
Fez-se então um total
momento de silêncio ... minha mente insana, que só pensa insanidades bem pra
legitimar mesmo , já começava a se despedir deste mundo, quando a Felicidade resolve se aproximar mais um pouquinho, senti que realmente eu iria morrer, vou morrer
mesmo. Adeus mundo cruel...
Ela muita calma, me sorri...
Mas não se iludam, era apenas um sorriso social, sabe daqueles que a gente
precisa sair distribuindo por ai, só pra parecer simpática e não desagradar
ninguém. Então foi um desse que ela me deu, não respondeu minha pergunta,
apenas sorriu socialmente.
Fútil essa tal felicidade , né? Com esse sorrisinho de bosta!
Mas até que ela tem os dentes bonitos... Ops...
Serão dela mesmo ou de algum dentista renomado mundialmente, provavelmente ela
deve usar aquele adesivo clareador que eu vi no comercial da TV.
Enfim, como não sou
mesmo de me deixarem calar com sorrisos sociais, até porque já que eu tava no
inferno mesmo, resolvi dançar com o diabo. Ah lembrei também na hora daquele
filme: O Diabo veste Prada, foi o que bastava , olhei pra ela, retribui com o
mesmo sorriso social, sou bem dessas mesmo, e mando-lhe a próxima pergunta:
- Posso ver o que tem
na sua bolsa?
Naaaaooõ, onde é que eu
tô com a cabeça, devo tá achando que sou alguma policial, faça-me o favor.
Posso ver o que tem na sua bolsa? Fiz isso mesmo? Perguntei isso pra
Felicidade. Sim, eu fiz isso.
Vamos pensar: Se algum
de vocês que estão me acompanhando nesse devaneio tivesse a oportunidade de
ficar cara a cara com a tal da Felicidade iam fazer algum tipo de pergunta ao
menos parecida com essa?
Pois eu fiz, então já
que fiz mais essa bosta, esperei pelo próximo ato da austera Felicidade.
Alias, ainda mantendo a mesma sensação de morte eminente da primeira pergunta.
Ela muito fina, com
gestos sutis, dignos de uma pessoa formada em Sorbonne, resolve abrir a bolsa,
de forma que eu pudesse sanar toda a minha feroz e latente curiosidade. Fina ela,
né?
Eu, já bem pronta para
o início do novo Armageddon, como um lobo atrás da caça, começo a tentar
enxergar tudo o que estivesse ao meu alcance.
Tinha óculos da Ray Ban
– detalhe acho que ela não deve enxergar muito bem, porque era de grau, pra
usar no Sol era da Empório Armarni, inúmeros batons, caixa de maquiagem com
tudo que você possa imaginar que exista a respeito tava lá também.
Eu muito tranquila,
dando uma revistada na bolsa da Felicidade, me deparando com absorventes – puts ela
consegue ser feliz, menstruando? , tinha cigarro, antidepressivo detalhe , tava lacrado,
acho que era pra um remoto caso de urgência, remédio pra dormir, ahhh esse ela já
tinha bem usado, perfume... lógico que não era da Natura , nada mais , nada
menos que um ... Channel 5, o perfum. mais famoso do mundo, mas engraçado,
tava lacrado também, não entendi, mas continuei minha vasculha até que "pasmem" dou de cara com um suntuoso bilhete da Mega Sena, isso mesmo um bilhete da Mega Sena.
Não
me aguentei cai no chão de tanto rir, com cólicas abdominais intensamente
doloridas de tanto rir. Como assim? Um
bilhete da Mega Sena na bolsa da Felicidade... Cheguei a achar que eu tava
tendo uma Rê Bordosa, mas não... isso era bem real... Tão real , que nem me atrevi
a perguntar se era ela mesma que tentava a sorte !
Depois de vários
minutos de cólera, manifestadas através de ótimas gargalhadas, me senti mais
calma, sei lá me deu uma tranquilidade, tipo daquela que a gente tem quando
transa satisfatoriamente. O prazer do êxtase me fez ficar de novo com aquela
boa e velha preguicinha, a mente deu uma tranquilizada também... Parei e assim pude olhar melhor nos olhos da Felicidade, calmamente cheguei à conclusão que era esse ato que me fazia questioná-la.
Mas desta vez, eu iria perguntar algo sério,
com um q de intelectualidade, maturidade, sabe algo assim bem preparado. Senti
medo, sempre me sinto assim, quando tenho vontade de formular perguntas desse tipo. Respirei, levantei a cabeça e:
- Por acaso, Sra.
Felicidade, neste momento , a sra. encontra-se sem dinheiro?
Páaaara Tudoooo !!! Que
porra de pergunta intelectualizada é essa ? Meu Deus do Céu , isso não é
pergunta , o nome disso é BLASFEMIA , sim a pior do mundo ... Agora realmente
além de morrer eu estava sentenciada a padecer no inferno por toda a
eternidade. Puta que pariu ... Como é que eu faço mais uma vez um negócio
desses comigo mesma? Eu sou a própria besta em carne e osso. Como é que eu me
sinto à vontade pra perguntar à magnânima Felicidade se ela tá sem dinheiro ? Agora passei do estágio de temer a
morte, já tô morta mesmo .
A beldade mais desejada
do universo, resolve então soltar a voz. Pensem em uma voz macia, suave, baixa
, coisa de gente que faz fono pelo menos duas horas por dia , então a voz da
Felicidade era assim. Eu como já tava morta e descrente mesmo ... Fiquei ali ,
pacientemente esperando pelo que ela ia me dizer.
- Por acaso, você já
ouviu que o dinheiro não trás Felicidade ?
Kkkkkkkkkkkkk , que
satisfação em saber que a Felicidade além de parecer rica era ,
constatavelmente burra. Era o que eu precisava , já mandei logo, o bom e melhor
chavão do mundo :
- Ah , Sra. Felicidade
já ouvi sim , álias ouvi até muito mais que isso , ouvi que ela manda buscar...
Desta vez , sou arrebatada
pela voz da D. Marisa, dona aqui da casa , que eu moro em Ubatuba, me pedindo
se podia colher acerolas, aqui do pé que tem em nosso jardim. Prestem bem
atenção ... Me pedindo. Nossa... Como me senti bem, lembrei de quando eu
subia no abacateiro que tinha lá na casa da minha mãe e eu ficava comendo abacate verde com
sal , como era bom ...
Enquanto lembrava ,
senti um vento, que foi virando uma brisa até terminar em um sopro de
felicidade, foram tão poucos segundos , que se eu pudesse apertar o pause da
minha vida , esse seria o momento ideal.
Senti também , um certo
olhar de inveja , logo atrás de mim. Adivinhem de que era ?

às vezes, é ótimo esquecer a tal promessa de não beber mais, encher a fuça e dar na cara dessa ditazinha com ares de civilizada mas que é uma fútil do cacete, vivas ao devanear, bjsss....
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