segunda-feira, 8 de abril de 2013

Onde você deixou seu guarda sol?





Sempre que íamos à praia, eu avisava minha filha ainda criança, que quando sentisse que não sabia onde estava, imediatamente deveria procurar pelo guarda sol melancia.

Isso mesmo... era um guarda sol imenso, com um desenho de melancia. Assim... por anos fomos e voltamos. Todos, inclusive o guarda sol, sem que ela se perdesse.

Tenho observado que atualmente, depois de grandes, adultos, crescidos, maduros, nos esquecemos das referências como a do guarda sol melancia, que metaforicamente vou fazer uso mais uma vez.

Enquanto adultos, nossa vida, sempre tão corrida, agitada, com inúmeras obrigações á cumprir, não nos concede  tempo para a observação, tempo para aquele olhar carinhoso para dentro da gente mesmo.
 
Estamos perdidos, muitas vezes até mesmo sem saber qual é o nosso lugar no mundo, que não  lembramos de procurar pelo guarda sol...

Claro que somos adultos, e essa questão nos parece por vezes extremamente infantil, mas quem nunca se pegou pelo menos uma única vez perdido?

Perdido no trânsito, em uma rua, até mesmo em uma conversa informal. 

O que fazemos então nessa hora, além de silenciosamente tentarmos sufocar o pânico causado pela situação?

Na maioria das vezes... Nada.

Isso mesmo, nada. Tá... nem tanto assim ,saímos a procura de alguma outra informação que nos oriente e que sublime esse momento tão desesperador.

Certo que a tecnologia está a nossa disposição, mas o perdido que falo aqui, não se trata desse que pode ser sanado a qualquer hora com a tecnologia.

Falo daquele perdido, que quando imersos aos nossos mais profundos sentimentos não sabemos o que fazer, não sabemos para onde vamos, o medo é tanto, que às vezes nos sufoca, faz calar violentamente o pedido de ajuda. 

Como se isso fosse à legitimação de nossas fraquezas.

Então, em meio ao nosso dia a dia cheio de ofertas apelativas, nos proporcionamos o esquecimento daquilo que nos aflige, saímos por ai, sem dar muita atenção aos primeiros sinais de que estamos perdidos.

Buscamos no mercado, no shopping, no bar, na academia, ás vezes até mesmo no outro a referência da própria perdição.

Quando isso acontece, por mais medonho que nos pareça é com certeza e sem relutância nenhuma a hora de parar tudo e procurar pelo nosso guarda sol melancia.

Muitas vezes, a resposta para quase todos nossos momentos carregados com aquela sensação de onde estamos, como chegamos, o que fazemos, qual o nosso lugar, está nada mais, nada menos do que em nós mesmos.

É simplesmente necessário parar tudo, e começar a pensar, sobre tudo no que estamos fazendo com nossas vidas, bem mais raro e precioso do que qualquer outra coisa que possa existir nesse mundo. 

Sim: Nossas vidas, a minha a sua, a nossa. Não existe nada mais absolutamente necessário e precioso do que ela... A Vida.

Acontece que parar hoje, nos dá a sensação de que vamos ficar para trás, então continuamos seguindo em frente, mesmos desorientados, para que ninguém nos ultrapasse. E seguimos... totalmente perdidos.

Então quando você sentir-se perdido, pense duas vezes. Pare imediatamente tudo o que estiver fazendo, e comece a procurar um jeito para se achar, por mais tempo que isso leve.

Lembre-se que em outros momentos, principalmente na infância, por várias vezes você teve essa mesma sensação e suas referências foram o sinalizador para continuar o caminho.

Na maioria das vezes é se perdendo que a gente se acha, se encontra, se ajeita...

A facilidade da administração do caos ocorria em você muito naturalmente enquanto criança. 

Portanto você, já cresceu sabendo o que fazer quando sentir que está em dúvida em qual é o seu lugar no mundo, o então que está perdido.

Fato é que você só perdeu o jeito, a manha, a mania de se achar, talvez tenha esquecido, afinal já se passaram tantos anos. Mas com certeza ta aí, em algum lugar, escondido em alguma bagunça, é só procurar.

Permita-se entender e aceitar sem culpas onde você está errando, qual a atitude que você tem repetido inúmeras vezes e não tem dado os resultados esperados, passe por uma rua diferente, encontre-se com novas pessoas, mude o canal da TV, o cardápio do domingo, sabe aquele tão tradicional, vista uma roupa de cor diferente, mude o jeito do cabelo... 

Faça alguma coisa, ficar com o cérebro paralisado não vai ajudar em nada. Pense , pense ... Mas já fique sabendo que isso dá um trabalho danado.

Mas permita-se a se achar, eu tenho certeza que você tem, ou teve, um “um guarda sol melancia”, por mais ridículo que possa ser.

domingo, 7 de abril de 2013

Orgasmo ? Aos 40 ?




O que  compartilho hoje chega a ser no mínimo um pouco ridículo, muitos dirão... 
Vou tentar expor de forma simplista, deixando inclusive de lado todos os benefícios físicos e mentais, para que brote em vocês talvez a curiosidade necessária para uma pesquisa mais esclarecedora sobre este devaneio.

Que me perdoem as mulheres mais conservadoras e tradicionalistas, as “santas e certinhas”, então vão me odiar.

Tenho uma opinião que vai contra a corrente que disserta sobre os padrões de comportamento esperados de uma mulher de 40 anos. 

Coisas do tipo: Mulheres de quarenta normalmente já se encontram em condições de viver melhor a vida, seus filhos já estão criados, profissionalmente já se estabilizaram, descobrem que além de serem super mães, são também super mulheres. 

Valorizam-se mais, já estão amadurecidas emocionalmente, não choram mais por amores efêmeros, não dão gargalhadas estrondosas em situações cômicas, sabem ser discretas, sabem seduzir, comportam-se em relações de conflito sem causar constrangimentos e outros tanto infinitos comportamentos que se esperam de uma mulher de quarenta.

Mesmo sem concordar  e o pior, não me enquadrar praticamente em quase nenhuma dessas regras, aprendi que em relação a esse tema, eu devo mesmo usar a discrição, quando o mesmo vir à tona na minha presença.

Até mesmo porque sou uma mulher de quarenta!!!

As maduras defensoras estão praticamente por todos os lugares, cito alguns em que as encontrei: cinemas, reuniões familiares, igreja, consultórios médicos e de dentistas, velórios, parques infantis, trabalho, happy hour, no transporte coletivo, museus, casamentos, banheiros femininos são os preferidos, superando até mesmo as clínicas de estética e depilação.  Todas já devidamente confortáveis e orgulhosas por fazerem parte da vasta e seleta gama destes comportamentos.

Após alguns anos, desenvolvi a seguinte técnica, para lidar com alguns assuntos: faço à boa e velha cara de paisagem o que me proporciona o prazer necessário para não entrar em questões “tão burocráticas e complexas”, concordo  com tudo, exatamente com tudo.

Mas infelizmente, ontem aconteceu um encontro desses, que para minha surpresa e aumento de indignação, trouxe a mais nova informação sobre uma mulher de quarenta.

Pelo menos essa eu ainda não tinha escutado. A mensageira, com 43 anos, fez-se materializada por forças demoníacas, exatamente para me perturbar. Só podia ser isso, não encontrei justificativa melhor para aquele momento.

Disse-me ela, com uma voz muito tranquila, depois de dissertar sobre as vantagens dos 40 anos, nada até então, que eu não soubesse, teoricamente.
O que realmente me fez começar a devanear, como fuga para tal barbárie, foi a seguinte frase:

E o melhor querida... Nesta idade já aprendemos a gozar, além de estarmos na idade da Loba!!!  Usando toda autoridade de uma PhD no assunto.

Fez-se em mim, a intranquilidade total, essa informação desestabilizou totalmente a minha compreensão ou falta dela, sobre os padrões de uma mulher de quarenta. Instantaneamente fui conduzida por meus piores e transgressores pensamentos a respeito de tão assunto. 
  
Pensemos ... uma mulher que pelo menos alguns anos atrás, iniciasse sua vida sexual aos 18 anos, sabido que hoje as estatísticas nos comprovam que essa idade está muito longe de ser a verdade sobre os fatos..

Mas enfim... Vou considerar 18 até pra facilitar a conta mesmo.
Então uma mulher que iniciou sua vida sexual aos dezoito anos, de acordo com a teoria “quarentista” passou 22 anos aprendendo a gozar?
 Foi isso que entendi?

Meu latente lado promíscuo já gritava palavrões do arco da velha.

Como assim uma mulher demora 22 anos para aprender a gozar e depois, aos quarenta anos, sai pelo mundo afora exibindo com o maior orgulho do mundo seu Certificado De Conclusão do Curso de Orgasmos. É isso mesmo?

Façam-me o favor... considerando que  quando se é jovem  a pretensão é mais de agradar o parceiro na transa  do que a gente mesmo , mas daí se levar 22 anos para alcançar o tão famoso orgasmo feminino já ta demais!!!

Indignada, conversei com uma amiga de 28 anos, portanto ainda em fase de aprendizado, me disse que durante uma aula na faculdade sua professora  afirmou que estudos comprovam que muitas mulheres chegam aos quarenta sem nunca terem gozado.

 É perfeitamente compreensível isso acontecer com muita frequência  no século XIX, afinal sabemos que o que se entendia por relacionamentos naquela época, é completamente diferente do que nós, hoje enxergamos e vivenciamos em uma sociedade contemporânea.

Hoje nos dizemos tão feministas... Lutamos pelos nossos direitos, o que inclui o orgasmo.
E ainda assim, saímos pelo mundo reproduzindo de forma muito natural que: O bom dos quarenta é que já aprendemos a gozar.

O que fazíamos então, enquanto os quarenta não chegavam?
Mantínhamos relações apenas para satisfazer o parceiro, ou manter casamento, segurar o namoro?

Perdoem a minha constada ignorância, mas durante toda a trajetória do aprendizado, estamos falando daqueles 22 anos, nunca passou pela cabeça de uma mulher que caso ainda ela não tivesse tido um orgasmo, alguma coisa estava errada?

Talvez o parceiro, a posição, o local, a cabeça, o stress diário, a repressão... Sei lá.
 Nunca ocorreu a ideia de: ajuda médica, tipo ginecologista, terapeuta, pai de santo, mãe, amiga, Google ou então quem sabe até mesmo uma conversa com o parceiro onde fosse ensinado o caminho para felicidade? Ops... falando nisso, parceiros não contribuam para a legitimação de mais essa insanidade, até porque vocês serão por muitos anos lembrados de forma bem negativa, portando amores, namorados, maridos, amantes, ficantes, casuais, usem  toda a sensibilidade possível para proporcionarem o tão almejado orgasmo feminino.

Depois que a mulher de 43 terminou a dissertação sobre os benefícios da idade, eu já nem sabia mais o que ela estava falando, só entendi que o tchau encerrava a conversa.

Julgamentos e preconceitos sobre á minha pessoa a parte, mas, por favor, quem tiver menos de 40, vai à dica: não espere esta idade chegar para gozar. 

Gozem antes, de preferência pouco tempo depois da iniciação, leve em conta também o período de adaptação, e comecem a gozar, não esperem pelos quarenta pra sentirem orgulho por que já aprenderam a gozar... 

Aprendam, pratiquem,... Concluam antes este curso!!! De preferência com muito, mais muito prazer.

E caso percebam que isso não ocorreu ainda no primeiro semestre, depois de iniciado, por favor, procurem ajuda!!!

Esqueçam-se da promessa que até os quarenta vocês  já saberão gozar.

 São muitos anos em omissão, eu arrisco em dizer sofrimento. 

E, por favor, não usem seus grandes lábios para reproduzirem de forma natural aos 40, mais esse discurso machista!


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Posso dirigir um pouco ?



A viagem foi ótima. Foram necessários alguns quilômetros a mais do que o previsto,  4.000 no total. 

Todos compensados por momentos inesquecíveis, paisagens belíssimas, vasta e deliciosa gastronomia...sem falar nas conversas .... ah essas foram realmente marcantes, tanto as que tínhamos no carro quanto as que aconteciam  fora dele . 

Sabe como é , 4.000 km pra rodar, sem televisão, quatro pessoas juntas sem muitas possibilidades, nem muitas informações. 

Como aquelas que somos todos os dias obrigados a ingerir sem muito tempo para metabolizar.

Então restava-nos dirigir e conversar. Rolava terapia, nostalgia, stress, lembranças boas e ruins também, saudades de quem estava longe, além de boas risadas .... muitas risadas. 

Medo ... das estradas e caminhos que nunca havíamos percorrido antes. 

Esse era o momento mais tenso , mas também o mais encantador... 

É impressionante quando as pessoas possuem o mesmo objetivo, tudo acontece com tanta coragem , tanta solidariedade, tanto respeito , que no final as probabilidades de tudo acabar bem , tornam-se inúmeras, quase até palpáveis.

O final de cada novo caminho nos presenteava com paisagens maravilhosas, boa comida, cada pausa para um descanso representava um promissor recomeço.

E assim fomos nós, muitas vezes o cansaço era superado com uma simples troca de gentileza : 

Quer que eu dirija agora ? 

Pronto ... momento mágico. 

Começava então uma nova etapa, com um novo motorista, nos próximos desconhecidos caminhos.

Poderíamos ser sempre assim... 

Sabe aquele momento em que você sente uma pessoa próxima ou não, algumas vezes cansada, exaurida, estagnada, com a rotina, com a vida ?

Então ... seria tão bom , se nesse momento nos sentíssemos à vontade para oferecer-lhe : Quer que eu dirija um pouco pra você?

Mas infelizmente , em nosso tempo,  nos policiamos para que ocorra exatamente o contrário: 

Isso não é um problema meu , ou então tá colhendo o que plantou e se eu me oferecer e fizer algo errado, se a pessoa achar que estou querendo me intrometer na vida dela ?

Agimos como se fosse necessário  autorização para sermos gentis, educados, solidários. 

Não que se tenha com esse ato a pretensão de resolver tudo , não , não é isso , é simplesmente permitir uma pausa para o descanso, para a reflexão, para uma água ou um café. 

Admiro aquelas pessoas que realmente se posicionam na vida, aquelas que expõe suas opiniões sem o menor medo ou pudor do que os outros vão pensar. 

Para essas foi feita a gratidão, o respeito e o orgulho. 

Elas realmente assumem o volante quando é preciso uma pausa, para o outro poder pensar melhor. 

Pensamos ,  descansamos e assumimos novamente o volante da  vida com um outro olhar ... um pouco mais esclarecedor, na maioria das vezes.

O fato de permitir essas possíveis intervenções, colaboram para além do crescimento emocional, a oportunidade de lidar com as críticas, que  na maioria das vezes em primeiro momento , despertam sentimentos não tão bons. 

Mas isso também faz parte ... O importante mesmo é aprender  com o tempo, a confiar por alguns momentos e em algumas situações o volante das nossas vidas. 

Tudo fica mais fácil, aquele esforço quase sobre humano diário, não interrompe mais, não ameça , nem paralisa.

Saber que podemos contar com alguém na nossa construção ou descoberta de novos caminhos ou mesmo na manutenção dos já existentes, nos permite por alguns instantes a incrível contemplação e análise dos belos presentes que o caminho tem pra nos oferecer.