Posso dirigir um pouco ?
A viagem foi ótima. Foram necessários alguns quilômetros a mais do que o previsto, 4.000 no total.
Todos compensados por momentos inesquecíveis, paisagens belíssimas, vasta e deliciosa gastronomia...sem falar nas conversas .... ah essas foram realmente marcantes, tanto as que tínhamos no carro quanto as que aconteciam fora dele .
Sabe como é , 4.000 km pra rodar, sem televisão, quatro pessoas juntas sem muitas possibilidades, nem muitas informações.
Como aquelas que somos todos os dias obrigados a ingerir sem muito tempo para metabolizar.
Então restava-nos dirigir e conversar. Rolava terapia, nostalgia, stress, lembranças boas e ruins também, saudades de quem estava longe, além de boas risadas .... muitas risadas.
Medo ... das estradas e caminhos que nunca havíamos percorrido antes.
Esse era o momento mais tenso , mas também o mais encantador...
É impressionante quando as pessoas possuem o mesmo objetivo, tudo acontece com tanta coragem , tanta solidariedade, tanto respeito , que no final as probabilidades de tudo acabar bem , tornam-se inúmeras, quase até palpáveis.
O final de cada novo caminho nos presenteava com paisagens maravilhosas, boa comida, cada pausa para um descanso representava um promissor recomeço.
E assim fomos nós, muitas vezes o cansaço era superado com uma simples troca de gentileza :
Quer que eu dirija agora ?
Pronto ... momento mágico.
Começava então uma nova etapa, com um novo motorista, nos próximos desconhecidos caminhos.
Poderíamos ser sempre assim...
Sabe aquele momento em que você sente uma pessoa próxima ou não, algumas vezes cansada, exaurida, estagnada, com a rotina, com a vida ?
Então ... seria tão bom , se nesse momento nos sentíssemos à vontade para oferecer-lhe : Quer que eu dirija um pouco pra você?
Mas infelizmente , em nosso tempo, nos policiamos para que ocorra exatamente o contrário:
Isso não é um problema meu , ou então tá colhendo o que plantou e se eu me oferecer e fizer algo errado, se a pessoa achar que estou querendo me intrometer na vida dela ?
Agimos como se fosse necessário autorização para sermos gentis, educados, solidários.
Não que se tenha com esse ato a pretensão de resolver tudo , não , não é isso , é simplesmente permitir uma pausa para o descanso, para a reflexão, para uma água ou um café.
Admiro aquelas pessoas que realmente se posicionam na vida, aquelas que expõe suas opiniões sem o menor medo ou pudor do que os outros vão pensar.
Para essas foi feita a gratidão, o respeito e o orgulho.
Elas realmente assumem o volante quando é preciso uma pausa, para o outro poder pensar melhor.
Pensamos , descansamos e assumimos novamente o volante da vida com um outro olhar ... um pouco mais esclarecedor, na maioria das vezes.
O fato de permitir essas possíveis intervenções, colaboram para além do crescimento emocional, a oportunidade de lidar com as críticas, que na maioria das vezes em primeiro momento , despertam sentimentos não tão bons.
Mas isso também faz parte ... O importante mesmo é aprender com o tempo, a confiar por alguns momentos e em algumas situações o volante das nossas vidas.
Tudo fica mais fácil, aquele esforço quase sobre humano diário, não interrompe mais, não ameça , nem paralisa.
Saber que podemos contar com alguém na nossa construção ou descoberta de novos caminhos ou mesmo na manutenção dos já existentes, nos permite por alguns instantes a incrível contemplação e análise dos belos presentes que o caminho tem pra nos oferecer.
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